Por Luciana Pinsky
Amo a fome. Sentir meu estômago preparado para receber comida. A saliva. Aquele exato momento da primeira mordida talvez seja mais prazeroso do que a saciedade completa.
Eu vivo para ficar faminta. Aquela sensação de que em poucos minutos o pão (perdão às amigas celíacas) com queijo (perdão aos colegas veganos) e presunto (perdão aos primos kasher) vai apitar na torradeira. O cheiro já não se contém na cozinha e invade a sala. O café não conhece fronteiras e chega ao quarto, apressando quem ainda se espreguiça.
Dizem que como tarde.
– Não se pode fazer exercício em jejum, você não dá alimento para seus músculos se desenvolverem.
Não nego: desde sempre fui tardia, por que seria diferente agora? O prazer do pão com fome. De tanta insistência, instituí um carboidrato antes também. Mas esse tem sabor de obrigação, não o festejo.
Agora sim: minha barriga (estimulada por abdominais e pranchas) ronca. Amaldiçoo e idolatro a torradeira que demora a apitar. Quanto mais tempo demora, mais suculenta será a mordida.
– Quem está faminto, devora.
Obviamente quem me ensina isso nunca dividiu uma refeição comigo. Sou aquela que mastiga e mastiga e mastiga. Sou aquela que enche duas, três vezes o prato. Minhas refeições são as mais longas, sou a última a sair da mesa. Demoro. Demoro porque como devagar. Demoro porque gosto de repetir. Para que encher o prato de uma vez só, se é muito mais gostoso fazer a refeição em etapas, cada uma com suas delícias? Assim, posso até devorar. Mas devoro degustando. Ou degusto devorando.
A fome passou. Por ora.
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c.attilio@uol.com.br
30 set 2024Adorei, Lu. E me identifiquei. Também sou dos que demora. Como por estapas, quase um ritual, e sou sempre o ultimo a sair da mesa. Desde sempre. Beijos do fã. Attilio